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O projeto “A Peça da Semana”, do Museu “Mariano Procópio”, destaca nesta edição documento da “Coleção Família Visconde de Cavalcanti”, do arquivo histórico da instituição. A “Carta de Brasão de Armas”, concedida pela Princesa Isabel (1846-1921) a Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, o Visconde de Cavalcanti (1829-1899), reforça sua proximidade com os imperiais e prestígio dentre os demais nobres. A carta é mantida em estojo forrado em veludo verde, com fecho dourado, coroa de conde e monograma de visconde. As imagens serão publicadas nas redes sociais do Museu.

Barões, viscondes, condes, marqueses e duques faziam parte da nobreza brasileira, que se diferenciava dos demais segmentos sociais pela ostentação do título e uso do brasão. Diferentemente do que ocorria na Europa, no Brasil os títulos nobiliárquicos não eram hereditários e, por vezes, sua concessão era associada aos “serviços prestados”, ao “patriotismo” e à “fidelidade” dos agraciados.

Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Pilar (PB), e morreu em Juiz de Fora. Cursou Ciências Sociais e Jurídicas em Olinda (PE). Foi deputado provincial, presidente (o correspondente, hoje, a governador do estado) do Piauí, Ceará e Pernambuco; ministro do Estado por três vezes e senador do império pela província do Rio Grande do Norte. Além disso, integrou o Conselho do imperador D. Pedro II, foi veador (empregado superior que servia à rainha), da Imperatriz Teresa Cristina e conselheiro de Estado Extraordinário. Também foi comendador da Ordem de Cristo do Brasil e condecorado com a Grã-Cruz da Vila Viçosa de Portugal e da Coroa Real da Prússia e as insígnias de Grande Oficial da Legião de Honra da França.

Em 1888, Diogo Velho recebeu o título de visconde, conforme carta assinada pela Princesa Isabel. Segundo o documento, a Princesa Imperial Regente, em nome do Imperador D. Pedro II, “querendo distinguir e honrar o senador do Império Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, [houve] por bem fazer-lhe mercê do título de Visconde de Cavalcanti, com as honras de grandeza”. Diogo Velho tornava-se, assim, nobre no final do Império, período marcado pela intensificação da concessão dos títulos de nobreza e presença do próprio nome no título.

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O Visconde de Cavalcanti foi um “Grande do Império”, privilégio intrínseco a duques, marqueses e condes, e reconhecido aos viscondes e barões com grandeza. O que sinaliza a existência de hierarquia entre a nobreza brasileira.

Apesar de ser conferido por decreto imperial exclusivamente aos maridos, as esposas também usufruíam da distinção possibilitada pelo título de nobreza. Assim, por intermédio de Diogo, Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque tornou-se Viscondessa de Cavalcanti. Prima-irmã de Alfredo Ferreira Lage (1865-1944), fundador do Museu “Mariano Procópio”, Amélia teve papel importante na constituição da instituição, destacando-se como grande doadora.

Com o desejo de “guardar a memória de seu honroso título”, Diogo Velho solicitou ao Governo Imperial a concessão do uso do brasão de armas. Esse poderia ser utilizado pelo visconde em “firmais, anéis, sinetes e divisão, em suas casas, capelas e mais edifícios, equipagem e finalmente em sua própria sepultura”. Entretanto, seus sucessores não poderiam “usar deste brasão, sem que a cada um deles fosse novamente conferido”. Nem todo nobre brasileiro possuía “Carta de Brasão de Armas”. De acordo com a historiadora Lilia Schwarcz, apenas 15% dos titulados tiveram essa carta, percentual que corresponde à aproximadamente 166 nobres. Diogo Velho foi um deles: pagou o imposto do selo referente não somente ao título recebido, mas também à aquisição da “Carta de Brasão”, o que lhe demandou gasto de significativa soma de dinheiro.

Através do brasão, o nobre se representava (ou se re-apresentava) ao mundo, já que a composição escolhida refletia a imagem que ele gostaria de ver e que os outros vissem. O brasão do Visconde de Cavalcanti apontava para quem ele era e se tornara, uma vez que trazia as armas dos Cavalcanti e dos Albuquerque, numa tentativa de afirmar sua ancestralidade e o legado das famílias, bem como a coroa de conde, que poderia ser utilizada por alguns viscondes: aqueles com honras de grandeza.

Referências

COLEÇÃO FAMÍLIA VISCONDE DE CAVALCANTI (Inventário). Juiz de Fora, Museu “Mariano Procópio”, 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. “As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um Monarca nos Trópicos”. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

VASCONCELOS, Rodolfo S; VASCONCELOS, Jaime S. “Arquivo Nobiliárquico Brasileiro”. Lausanne: Imprimerie La Concorde, 1918.

Foto: Divulgação

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